segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

[Resenha] - Os Miseráveis




Os Miseráveis! SIM! Finalmente eu pude colocar meus lencinhos pra trabalhar e saí desidratada do cinema. Pelo menos minha cunhada riu da minha cara por causa disso e no banheiro as tiazinhas estavam chorando e tão apertadas quanto eu. Meu mico não foi solitário, ainda existe gente sensível neste mundo. \\o
O que já não posso dizer de um tal de Cauê do site G1, que diz ser um filme cansativo, sentimental à exaustão, onde não há sobriedade ou sutileza. 

Francamente! Pra não dizer que fui injusta, o link da crítica tá ai em cima. Eu usei as palavras dele, não estou difamando ninguém (leia a crítica pra não me julgar mal, por favor!)
E digo as minhas palavras aqui, no meu blog: Cauê, se você quer comédia, ação e romance num mesmo filme, procure qualquer um estrelado por Tom Cruise, Ashton Kutcher, etc, que fale sobre um espião que se envolve com uma jovem atrapalhada e ambos se enfiam nas mais loucas e engraçadas situações. Sim, é destes filmes que você pensou que eu estou falando. Mas, se você for ao cinema assistir um filme inspirado num musical que por sua vez foi baseado num clássico épico do século XIX, você vai ter SIM duas horas e meia de músicas cantadas ou não e raras falas. O gênero deste filme é MUSICAL. E vai ter também muito drama, choro, cenas feias, gente suja e maltrapilha, tiros, sangue, injustiças, pois esta é a história de Os Miseráveis. Simples assim, queridinho! U.u

Enfim... *respirando*


Fui ao cinema hoje e voltei pensando em fazer uma resenha do filme Os Miseráveis, pois ele ainda está reverberando em mim (e vai ficar por algum tempo). Eu poderia apenas comentar no Facebook sobre tudo o que achei desta obra linda, mas como estou surtando, não vai dar certo, preciso de mais espaço. =D

Segundo a sinopse do filme, a história narra a vida de Jean Valjean, um homem que foi condenado por roubar um pedaço de pão para alimentar sua sobrinha e cumpre pena de escravidão pelo triplo do tempo, por ter se rebelado e tentado fugir. Após ser liberto e conseguir refazer sua vida, ele busca se redimir de sua culpa e ajuda a quem precisa. Assim, ele promete cuidar de Cosette, filha de sua ex-funcionária, Fantine. A partir daí suas vidas mudam completamente.

Estas foram algumas palavras que encontrei em algumas sinopses que li. Mas, o filme é muito, muito mais do que isso e a história é muito mais profunda do que a busca por perdão de um homem que tenta se redimir adotando uma criança que poderia morrer em outro caso.

Quando Jean (Hugh Jackman) consegue a liberdade condicional, ele vaga em busca de comida e algum trabalho. Ele então se encontra com um sacerdote que lhe abriga e alimenta e tem a oportunidade de se redimir. Num encontro com Deus, ele reflete sobre sua vida e suas opções a partir de onde está, e decide mudar sua vida, mas para isso ele quebra sua liberdade condicional e se torna um fugitivo da lei. Ele vive assim por anos, sem saber que muito perto está seu algoz da prisão, o policial Javert (Russel Crowe).





Posteriormente ele conhece Fantine (Anne Hathaway), uma mãe solteira que envia todo o seu dinheiro para um casal que cuida de sua filha, Cosette (Isabelle Allen quando criança e Amanda Seyfried, adulta). Fantine acaba perdendo o emprego e tudo o que lhe resta é viver na miséria, sendo obrigada a se prostituir para conseguir dinheiro e enviar à filha. Ao ver sua situação Jean decide ajudá-la e promete cuidar e proteger Cosette, enquanto ainda é criança.

Passados alguns anos, uns jovens burgueses estudantes planejam uma revolução contra o estado que nada faz pelo povo, que padece de fome e pragas. Marius (Eddie Redmayne), um destes jovens revolucionários e Cosette se apaixonam à primeira vista. 

Com o estouro da revolução dos jovens visionários o casal percebe que pode não haver um final feliz para ambos, pois Jean quer fugir, uma vez que ainda é um ex-prisioneiro e está sendo perseguido por Javert que é orgulhoso de sua função, obstinado e incansável em sua busca pela justiça. Ele quer a todo o custo prender Jean por seus crimes do passado. Mas Cosette não quer ir embora, sabendo que seu amor está para lutar e que poderá perdê-lo para sempre.



Jean se vê novamente num impasse: fugir e proteger seu tesouro, Cosette, ou deixar a vida lhe mostrar novamente o melhor caminho a seguir, o que pode implicar em sua rendição à polícia e sua prisão certeira? Jean tem que tomar uma decisão que poderá mudar os rumos da vida de todos ao seu redor.




Na trama ainda temos os personagens do casal que "cuidava" de Cosette que consistem num casal cômico e malandro, que efetua pequenos furtos na base da esperteza e suas aparições são sempre engraçadas, interpretados por Helena B. Carter e Sacha Baron Cohen.

A história se passa na França do século XIX, onde o povo sofria de miséria extrema, fome, descaso e as diferenças sociais eram gritantes. Obra do escritor Victor Hugo, de 1862, Les Misérables, traz em seu bojo um grito de protesto em relação ao posicionamento da política e a situação vivida pelos pobres da época. Ainda é abordado o tema religioso, muito visível no personagem de Jean, que tem vários momentos de reflexão de fé e questionamentos existenciais.

O que é interessante do ponto de vista espiritual é que a história levanta várias vezes a questão: Onde está Deus quando as pessoas mais precisam? Quando morrem de fome, de doenças, vítimas da injustiça e da desigualdade? As pessoas se sentem abandonadas num mundo injusto, onde a guerra lhes tirou o pouco que tinham e lhes deixou um legado de dor, morte e sofrimento.


Outro ponto que se pode observar é a fé. Jean passa por tantas reviravoltas em sua vida que após resgatar sua fé em Deus, várias vezes repensa e questiona suas convicções espirituais. Ele se mostra um sobrevivente, em constante fuga e luta, tentando a todo o custo proteger Cosette de um mundo cruel e injusto, bem como de seus segredos obscuros do passado. 

Estas questões são totalmente atuais, guardadas as devidas proporções depois de dois séculos de avanços sociais. Isso denota a genialidade de Victor Hugo, que escreveu uma saga épica com visão e sensibilidade raras. No campo espiritual, o que acontece entre os personagens e Deus são experiências completamente verossímeis e os questionamentos, medos e aflições, bem como o reencontro com o sagrado e a paz que a fé em Deus pode proporcionar são sentimentos que todos nós vivenciamos ou vivenciaremos em algum ponto da vida. A história de Os Miseráveis dialoga tranquilamente com os dias e contingências atuais.




No final, esta nuance espiritual da história deixa uma mensagem na medida certa, sem ser apelativa, de forma que surpreende os mais atentos, criando um ciclo numa conclusão que define o que é o cristianismo.

O filme é baseado no musical da Broadway e é quase praticamente todo cantado e toda a história e as conversas são em forma de canção. As falas que não são em forma de música são pouquíssimas e isso confere a novidade ao gênero. Eu estranhei um pouco isso no começo, pois esperava falas, diálogos nos momentos em que uma canção se encerrava. Isso acontece em Mamma Mia! por exemplo. Em Os Miseráveis as canções foram todas gravadas ao vivo e não em estúdio. Neste vídeo postado no site do filme, alguns atores falam sobre a experiência de cantar ao vivo e interpretar ao mesmo tempo, bem diferente de gravar a música num estúdio e depois de dias interpretar o papel dublando a canção, o que fica muito feio, na minha opinião.

Com certeza isso faz toda a diferença para a veracidade das cenas e a emoção que elas transmitem é tocante. Isso mostra também a coragem dos atores e o engajamento em realizar a interpretação para o cinema com este tipo de atuação. Vale a pena conferir o vídeo, que não contém spoilers.



E falando de música... As interpretações mais marcantes com certeza são de Hugh e Anne. Hugh consegue dar sentimento a cada compasso de cada canção, apesar de seu timbre de voz não ser dos meus preferidos. Porém ele é afinadíssimo e tem potência vocal. 
Anne tem a voz muito estridente para o meu gosto, mas não perde de Amanda Seyfried, que não canta bem, principalmente quando alcança notas mais agudas. Ela é afinada, mas não tem firmeza vocal, parecendo sempre ter que recorrer ao falsete pra chegar lá... Anne arrasa em seu momento "I Dreamed a Dream", arrancando soluços desta manteiga derretida aqui. Só não gostei muito da avaliação que ela faz sobre si mesma no momento desta cena, mas você terá que ver o vídeo que indiquei pra saber do que estou falando. (não sou fã da Anne, acho que justamente por isso: ela sempre me pareceu muito arrogante) =P

Já Russell Crowe, que foi fortemente criticado por sua interpretação, fica cinza num filme que tem poucas cores, muita chuva e neve. Russell ficou estigmatizado como o 'bad boy', mesmo interpretando mocinhos nas telonas. Aqui não é diferente. A gente sente raiva dele, na maior parte do tempo. Mas pelas críticas, eu esperava bem menos dele. Até que curti. Ele tem dois momentos semelhantes um com o outro ao longo do filme, que são os dois ápices de seu personagem, quando a gente conhece mais sobre ele. Nestes dois momentos ele tem a chance de mostrar sua voz, que é muito bonita, mas que sai abafada e estranha aos meus ouvidos. Se Hugh tivesse o timbre dele, passaria de 'perfeito' para 'um deus' da música cantada. =O




Sem dúvida, Os Miseráveis é um clássico atemporal, haja vista a quantidade de gravações para o cinema, TV e interpretações teatrais que vem sendo feitas ao longo de todos os anos após a sua criação.

A experiência de ver esta linda história - com uma mensagem relevante e importante - no cinema foi um privilégio e eu recomendo a todos. O musical tem um toque diferente pela forma como foi feito. Muita música, pouca fala. E na minha opinião é justamente por isso que ele tem valor. Por ser diferente. Nunca gostei muito de musicais e Os Miseráveis foi uma grata surpresa, assim como me apaixonei por Mamma Mia! Prova de que a gente deve experimentar tudo o que puder no campo das artes, correndo o risco quase que invariavelmente, de se encantar cada vez mais.


Os Miseráveis ganhou o Globo de Ouro nas categorias:
- Melhor Filme de comédia ou musical;
- Melhor Ator de comédia ou musical para Hugh Jackman;
- Melhor Atriz de comédia ou musical para Anne Hathaway
Veja mais detalhes aqui.



 

Também está concorrendo ao Oscar nas categorias:
- Melhor Filme;
- Melhor Ator (Hugh Jackman) torcendo muito, muito, muito
- Melhor Atriz Coadjuvante (Anne Hathaway)
- Melhor Canção Original ("Suddenly", de Claude-Michel Schönberg (música), Herbert Kretzmer (letra) e Alain Boublil (letra)
- Melhor Figurino
- Design de Produção
- Melhor Maquiagem e Cabelo

Você encontra mais informações sobre Os Miseráveis aqui: Wikipedia e sobre o filme aqui

É isso aí! Vá assistir Os Miseráveis e volte aqui pra me dizer que concorda com tudo o que eu disse!!

=DD

Beijos!






4 comentários:

  1. Com certeza vou assistir, ainda mais depois dessa resenha. Isso me lembra o quanto nos anos 40 e 50 os atores e atrizes tinham que saber interpretar, cantar e dançar para serem aceitos em Hollywood. Gostei muito como você está contextualizando o que assiste, dando ao leitor o que ele ignorava. Só uma dica, que aprendi faz pouco tempo: faça uma resenha depois que o filme chegar às locadoras; dá tempo do sangue esfriar. Algusn filmes sai do cinema encantado e quando fui escrever, vi que não era tudo aquilo. Outros ocorreram o inverso. O sangue quente nos faz cometer erros e injustiças. Acho que não é o seu caso aqui, mas que tomou foi o coitado do Cauê. kkkkk

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    1. kkkkkkkkkkk... O coitado do Cauê, sim... ele levou o pato. Mas, fala sério ele criticar o filme pelo fato de ter muito apelo emocional e ser música o tempo todo? Sinceramente, ele queria o quê? =/

      Amigo querido! Fico muito, muito feliz por você ter lido e comentado, não sabe o quanto é importante pra mim. E seus elogios, só me enchem o ego. Obrigada!! Me sinto honrada com suas palavras.
      Sua dica está anotada, mas nos casos de filmes como esses deixar o sangue esfriar pode me fazer perder o interesse pelo assunto, sem contar com o fato de virar notícia velha. Em todo caso, concordo que é bom repensar e/ou rever o filme. Irei rever o filme, com certeza. Como disse não gosto muito de musicais, por que se tornam cansativos mesmo, mas Os Miseráveis tem uma grandiosidade que suplanta o tédio e quando você vê a coisa tá concluindo e você tá querendo saber mais coisas da história e dos personagens. A música constante é estranha no começo, mas depois a gente pega a manha do ritmo do filme e vai muito bem. Acho que é algo cultural que não temos aqui no Brasil e por isso é difícil se adaptar e se acostumar. Mas é um gênero que tenho aprendido a gostar cada vez mais.

      Ah, se quiser companhia pra ver o filme, estamos aí!! =D

      Super bjo e obrigada de novo! ;D

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  2. Eu gostei da resenha e sinceramente gostei muito do filme. Também vi no cinepop quando falaram que o filme é cansativo. Não concordo, acredito que as pessoas não estão acostumadas a ver Musicais (musicais sem fala, diga-se de passagem) e estão reclamando por causa disso.

    Não consigo entender essa raiva das pessoas, porque sinceramente foi um dos melhores filmes e mais temáticos que eu já assisti. Faz uma semana e ainda penso nele como se fosse uma obra prima.

    Só saí assim do cinema nos últimos anos logo após Cisne negro, e estou assim desde então. É um filme muito bom e que merecia mais gente aqui no Brasil assistindo

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  3. Sim, vc captou oq foi a essencia do filme pra mim! Alem de um filme muito bom com uma historia genial e musicas maravilhosas (que eu tb estranhei qnd percebi que compunham o filme todo, ja que esperava falas xD), achei o filme EXTREMAMENTE cristão e com lições de vida importantíssimas para qlq pessoa que se diz cristã!
    O filme prega decência, compaixão, amor, fé e vida nova... Eh tudo em que eu acredito e considerei o filme, alem de uma obra de arte, um testemunho transformador.
    Genial!

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