segunda-feira, 24 de junho de 2013

Lutar, sim! Mas, e o que está além do grito?

Dias de mudanças. Povo nas ruas. Gritos de protesto. Palavras de ordem. Cartazes com dizerem pedindo justiça, ordem. Nas últimas semanas temos visto milhares de pessoas em passeata nas ruas das principais capitais do país, protestando por um Brasil melhor.
Certo, chamada de jornal não é bem o assunto aqui e todo mundo já ouviu e leu isso.

Ok, muito legal, muito bom, muito bacana. O gigante acordou, o povo percebeu que pode ir atrás de uma vida em sociedade melhor, mais justa, mais correta. O povo está empolgado com o fato de ter seu grito ouvido, mesmo que seja meio na marra. Guardadas as devidas proporções, como diria um professor meu, num país deste tamanho e com tanta gente, tem que fazer na marra, por que só desejar e se posicionar no seu âmbito de convívio não adianta nada. Os governantes não vão saber que a gente se indigna com tanta violência, falta de educação, hospitais, roubalheira e corrupção. Ninguém tem o telefone da Dilma pra dizer: “Companheira Dilma, a situação está complicada. Precisa fazer alguma coisa aí de relevância por que o povo tá morrendo no corredor da fila do SUS. Assim não dá, companheira!”

Não, assim não dá. Mas, o quê fazer?

Sugestão 1: conheça sobre o que você está falando. Saiba melhor o que está reivindicando, do que se trata aquela lei, aquele aumento de taxa, o que vai acontecer quando tudo isso mudar.

E pode crer, a internet é uma faca de “dois legumes”. Tanto engorda quanto mata. Tem gente falando coisa boa, relevante, importante (pouca gente, mas tem), e tem a maioria que está só no oba-oba, tanto nas ruas como nas redes sociais.
Vamos combinar que não foi de um dia pro outro que esses milhões de pessoas aprenderam DE VERDADE o que significa tudo o que eles estão fazendo lá na rua. Vamos combinar que muita, muita gente, por mais pacificamente que seja, não tem a real ideia do que tá rolando e pelo quê eles estão gritando. Vamos na embalo? Engrossar o coro que é mais fácil ser ouvido? Ótimo. Mas, ali no frigir dos ovos, na maioria esmagadora... A galera nem sabe cantar o hino nacional.

Pensando nisso eu comecei a ler e refletir sobre o outro lado das manifestações.

Eu compartilhei um post com um textinho pequeno que tenta entender o significado por trás daquela máscara do Anonymous. O texto é de um cara que fez umas contas mais ou menos pra saber o que a galera acha que era a máscara e depois ele explica, historicamente, o que representa essa máscara. Se está historicamente correto ou não, não posso afirmar, pois não estudei pra saber, mas ao menos é uma luz sobre o assunto. Ao menos pra mim me fez pensar: Será que eu sei mesmo sobre o que estou compartilhando ou apoiando, ou protestando? Penso, dentro da minha limitação intelectual, que protestar com uma máscara no rosto é qualquer coisa oposta a protestar. Se a máscara não é pra se esconder e sim simbolizar algo, use uma camiseta, simples e mais útil. E mostre a sua cara! Você deve alguma coisa? Se sim, nem comece a protestar, pois já está errado. Vá primeiro refletir sobre suas posturas e tentar corrigir seus erros. Se não, por que se esconder? Ninguém na minha timeline curtiu.
(https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10151648928137156&set=a.10150266582152156.343921.673837155&type=1&relevant_count=1)

Da mesma forma compartilhei um texto de um blog a respeito das manifestações e a respeito do que virá depois. Alguém sabe? Alguém propôs algo concreto e que de fato possa ser analisado pelas pessoas que comandam o país? Ok, fomos às ruas protestar, pra mudar o que tem lá. Depois da mudança, depois de tudo alterado o que vai ser colocado no lugar? Alguém tem um projeto aí na manga? Qual a proposta do POVO pra depois da lavagem da sujeira toda? Ninguém curtiu.

Antes disso uma amiga publicou o seguinte no seu perfil do Facebook, e que é a minha sugestão 2:
Você luta contra a corrupção no dia a dia? Devolve troco errado? Não suborna um policial para aliviar a multa? Dá e pede nota fiscal? Não rouba Tv a cabo? Não falsifica carteirinha de estudante? Não fura fila? Não compra DVD pirata? Não falsifica assinatura? Não bate cartão de ponto de colega?
” Eu compartilhei na minha timeline e APENAS duas pessoas, entre elas a minha amiga que publicou isso, curtiram.

No domingo, ontem, eu estava na igreja e o pastor falou que leu algo similar a isso na internet e comentou sobre esses posicionamentos diários que todas as pessoas podem ter. Ele comentou que numa fila de festa junina de seus filhos, os filhos de um outro pai chamou a atenção pois as suas crianças tinham furado a fila. E ele disse que tudo bem, não tinha problema. O pai disse: “Tem problema sim. Hoje eles furam fila, imagina o que eles estarão fazendo no futuro?”

Isso me levou a refletir novamente sobre nossas ações diárias, mínimas, mas que delas são feitas as histórias da nossa vida e são delas que tocamos as pessoas com quem convivemos ou esbarramos. Como o pai dos garotinhos tocou o meu pastor, e ele não esqueceu do exemplo de educação daquele pai.

Então, eu pergunto: O que nós podemos fazer? De fato? Na real? No nosso dia a dia? Nas coisas pequenas, no “bom dia” pro faxineiro do seu prédio e no fato de não jogar aquele papel de bala dentro do elevador? Ou além, recolher o cocô do seu cachorrinho quando leva ele pra passear? Daí, você vai me dizer: “Ah, mas isso é questão de educação.” E eu digo: “Sim, é educação mesmo.”

É por causa da educação que temos é que podemos racionalizar, refletir e tomar atitudes por um lugar melhor, um mundo melhor pra viver. E esta é a resposta pra sugestão 1: estude, aprenda e entenda o que realmente significa toda essa comoção nacional e as implicações disso tudo.

E é por falta de educação ou instrução, por exemplo, que tem muita gente querendo tirar – como num passe de mágica – a Dilma da presidência e dar de presente de Natal o cargo pra outra pessoa. Por que nossos jovens não sabem como funciona a máquina do governo, os três poderes, o que faz o Congresso, a Câmara e qual a função dos engravatados que estão lá. Pois, como eu que aprendi isso na faculdade mas já votava há mais de 5 anos, que quem faz as leis e manda de verdade nos rumos do país não é a pessoa que está no cargo de presidente. Pelo contrário, o presidente é o que tem o salário menor e menos manda em tudo. E eu me lembro que disse ao professor: “A gente deveria ter aprendido isso na escola.” E ele disse: “E você acha que o governo quer um povo que sabe das coisas, ainda mais destas coisas?”

E todo mundo dá “aquela” importância pra eleição presidencial – manipulados pela mídia, claro – mas na eleição dos deputados e vereadores, galera vota na legenda, anula o voto, ou “rouba” o candidato do vizinho, do cara que tá na sua frente na fila da porta da sala onde vai votar.

Realmente esse assunto é bem complexo e chato. Eu aprendi lá, numa ou duas aulas, mas não sei direito ainda.

Mas, eu sei e não precisa ir pra faculdade pra saber, que se eu furar fila, se falsificar assinatura, se pagar propina pro guarda, eu estarei - num âmbito muito menor mas não menos importante - agindo com má fé e corrupção, do mesmo jeito. Se eu tiver que usar o serviço público de saúde, mas conhecer um médico chefe lá dentro e usar da prerrogativa pra “furar a fila no transplante ou tratamento”, estarei sendo tão corrupta quanto o sistema que deixa milhares de pessoas morrerem sem ter chance de serem tratadas. Isso acontece. Tenho um exemplo na família, que preferiu ficar semanas internada (sem estar doente) pra esperar sua vaga de cirurgia no Hospital das Clínicas, pra não passar na frente das outras pessoas que também já esperavam pela sua vaga.

O mesmo vale pra vaga em estacionamento. A vaga para deficiente já diz: é para DEFICIENTE. Se você não é deficiente, procure outra vaga. Você ainda não é idoso, mas um dia vai ser e quando chegar a sua vez você vai ficar com raiva do jovem que tomou a sua vaga exclusiva. Este é outro exemplo que o pastor deu lá no domingo, que eu achei super relevante.

E são nessas pequenas atitudes que mostramos realmente que tipo de país queremos pro futuro dos nossos filhos. É na educação deles que perpetuaremos um povo justo, correto, honesto. Pois os governantes que estão lá foram ou são filhos de alguém, que um dia teve a oportunidade de ensinar o correto, o honesto pro seu filho. De dar o exemplo devolvendo o troco errado pro caixa da padaria. Que sejam 10 centavos. Não importa. O que é certo é certo.

E se nós não fazemos o certo no nosso âmbito de convívio, no nosso dia a dia, agindo com honestidade, hombridade, com educação no trânsito, na hora de dar passagem pra um velhinho ou deficiente, na hora de dizer uma palavra de afeto a um estranho, nunca vamos conseguir um país melhor e mais justo. E também não refresca muito um país melhor e mais justo se vivemos como pessoas desonestas, arrogantes e mal educadas. Pois um país melhor é feito de pessoas, não só de leis. É feito do povo, dos jovens e crianças que ficarão aí, cuidando do legado que deixaremos de herança. Uma vida melhor é feita das atitudes pequenas, das quais sabemos realmente do que se tratam. Boas e saudáveis atitudes, de cada um de nós, faria uma imensa diferença. No cuidado com o patrimônio público, com o não jogar lixo no chão, com o economizar água, luz, reciclar seu lixo, no respeito às leis que nós mesmos estamos exigindo que sejam mais justas e corretas.

É muito importante que o povo se posicione, lute pelos seus direitos e reivindique melhorias na administração pública de forma geral, claro que sim. Uma coisa não exclui a outra. Mas é nitidamente contraditório gritar por honestidade e justiça se nós mesmos agimos na contra mão disso, na nossa casa, com nosso vizinho, colegal de trabalho, com o desrespeito pelo que é público... Por que nada mais contraditório do que exigir honestidade e bons serviços públicos, ir contra o aumento da taxa de ônibus, e dizer que o transporte não é de qualidade e ver que o transporte que nós temos, do jeito que está é de forma geral – e estou generalizando SIM, pois quem anda de ônibus sabe que é assim – depredado, pixado, quebrado, sujo e mal cuidado pelos próprios usuários.

Nada mais contraditório do que lutar pela melhoria no saneamento, moradia, mas jogar lixo no rio Pinheiros, despejar entulho em local inadequado, não reciclar o lixo, não tomar posturas e se engajar em iniciativas que procurem melhorar essas questões. Por que o alagamento não acontece SÓ por que o rio não suporta a cheia, mas também e quase que exclusivamente, por que não há vazão da água pelo acúmulo de lixo nas ruas. Então, de que adianta todo ano o cidadão chorar na TV que sua casa alagou de novo, mas ele mesmo jogar seu lixo nos córregos e cantos da cidade, proporcionando que esse lixo se acumule e no futuro cause enchentes.


Com tudo isso, que de novidade não tem nada, nossa maior herança é o exemplo que estamos dando a nossos filhos e semelhantes no dia a dia, no respeito ao próximo, nas atitudes corretas, honestas e solidárias com os menos favorecidos que nós e para o bem da coletividade, a começar em mim.