quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Rancho Fundo - Ary Barroso/Lamartine Babo

Esta me toca. No rancho fundo da minha alma.

Gravação do DVD Chitãozinho e Zororó Clássicos Acústico vol. I
http://www.youtube.com/watch?gl=BR&hl=pt&v=aSPxatzdvcw

Rancho Fundo - Ary Barroso/Lamartine Babo

No rancho fundo
Bem prá lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade
Contam coisas da cidade

No rancho fundo
De olhar triste e profundo
Um moreno canta as mágoas
Tendo os olhos rasos d'água

Pobre moreno
Que de noite no sereno
Espera a lua no terreiro
Tendo um cigarro
Por companheiro

Sem um aceno
Ele pega na viola
E a lua por esmola
Vem pro quintal
Desse moreno

No rancho fundo
Bem prá lá do fim do mundo
Nunca mais houve alegria
Nem de noite, nem de dia

Os arvoredos
Já não contam mais segredos
E a última palmeira
Já morreu na cordilheira

Os passarinhos
Ibernaram-se nos ninhos
De tão triste esta tristeza
Enche de trevas a natureza

Tudo por que
Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno
Prá uma casa de sapê

Se Deus soubesse
Da tristeza lá serra
Mandaria lá prá cima
Todo o amor que há na terra

Porque o moreno
Vive louco de saudade
Só por causa do veneno
Das mulheres da cidade

Ele que era
O cantor da primavera
E que fez do rancho fundo
O céu melhor que tem no mundo

Se uma flor desabrocha
E o sol queima
A montanha vai gelando
Lembra o cheiro da morena...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Engarrafando Deus? Não. Metamorfoseando a mente!



Todas as terças-feiras temos um devocional no trabalho, e hoje foi minha oportunidade de falar. Comentei sobre a Missão Integral, com base num texto de Ed René Kivitz e no texto de Lucas 6: 1-11. Fui elogiada e me agradeceram, pois dificilmente as pessoas pensam no outro e nessas questões. Eu, por minha vez, agradeço à Deus. Agradeço por - de vez em quando eu assumo - eu penso que alguém passa fome, frio, medo, solidão, abandono. E quando eu penso, mesmo que não esteja fazendo algo verdadeiramente concreto para mudar essa realidade, eu me sinto mais humana e assim mais próxima de Deus. Basta? Acho que não. Tenho certeza que não.


Achei o texto abaixo no site do Pr. Ricardo Gondin. Espero um dia ter maturidade intelectual suficiente para entender Rubem Alves.


Lendo isso, eu talvez me sinta um grão de areia, perto desse mar que é Deus. Ele me ensopa, me encharca com seu amor, sua misericórdia e bondade para comigo. Tão fraca, tão errada, tão individualista... Tão necessitada de metanóia. Mas ele tem me dado sutis oportunidades de mudar minha mente, metanóia... Glória à ele por isso. Como dizia Raul Seixas, "eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo."


Sobre Deus

Rubem Alves


Alguém disse que gosta das coisas que escrevo, mas não gosta do que penso sobre Deus. Não se aflijam. Nossos pensamentos sobre Deus não fazem a menor diferença. Nós nos afligimos com o que os outros pensam sobre nós. Pois que lhes digo que Deus não dá a mínima. Ele é como uma fonte de água cristalina. Através dos séculos os homens tem sujado essa fonte com seus malcheirosos excrementos intelectuais. Disseram que ele tem uma câmara de torturas chamada inferno onde coloca aqueles que lhe desobedecem, por toda a eternidade, e ri de felicidade contemplando o sofrimento sem remédio dos infelizes.

Disseram que ele tem prazer em ver o sofrimento dos homens, tanto assim que os homens, com medo, fazem as mais absurdas promessas de sofrimento e autoflagelação para obter o seu favor. Disseram que ele se compraz em ouvir repetições sem fim de rezas, como se ele tivesse memória fraca e a reza precisasse ser repetida constantemente para que ele não se esqueça. Em nome de Deus os que se julgavam possuidores das idéias certas fizeram morrer nas fogueiras milhares de pessoas.

Mas a fonte de água cristalina ignora as indignidades que os homens lhe fizeram. Continua a jorrar água cristalina, indiferente àquilo que os homens pensam dela. Você conhece a estória do galo que cantava para fazer nascer o sol? Pois havia um galo que julgava que o sol nascia porque ele cantava. Toda madrugada batia as asas e proclamava para todas as aves do galinheiro: “Vou cantar para fazer o sol nascer”. Ato contínuo subia no poleiro, cantava e ficava esperando. Aí o sol nascia. E ele então, orgulhos, disse: “Eu não disse?”. Aconteceu, entretanto, que num belo dia o galo dormiu demais, perdeu a hora. E quando ele acordou com as risadas das aves, o sol estava brilhando no céu. Foi então que ele aprendeu que o sol nascia de qualquer forma, quer ele cantasse, que não cantasse. A partir desse dia ele começou a dormir em paz, livre da terrível responsabilidade de fazer o sol nascer.

Pois é assim com Deus. Pelo menos é assim que Jesus o descreve. Deus faz o sol nascer sobre maus e bons, e a sua chuva descer sobre justos e injustos. Assim não fiquem aflitos com minhas idéias. Se eu canto não é para fazer nascer o sol. É porque sei que o sol vai nascer independentemente do meu canto. E nem se preocupem com suas idéias . Nossas idéias sobre Deus não fazem a mínima diferença para Ele. Fazem, sim, diferença para nós. Pessoas que tem idéias terríveis sobre Deus não conseguem dormir direito, são mais suscetíveis de ter infartos e são intolerantes. Pessoas que têm idéias mansas sobre Deus dormem melhor, o coração bate tranqüilo e são tolerantes.

Fui ver o mar. Gosto do mar quando a praia está vazia da perturbação humana, Nas tardes, de manhã cedo. A areia lisa, as ondas que quebram sem parar, a espuma, o horizonte sem fim. Que grande mistério é o mar! Que cenários fantásticos estão no seu fundo, longe dos olhos! Para sempre incognoscível! Pense no mar como uma metáfora de Deus. Se tiver dificuldades leia a Cecília Meirales, Mar Absoluto. Faz tempo que, para pensar sobre Deus, eu não leio teólogos; leio os poetas. Pense em Deus como um oceano de vida e bondade que nos cerca. Romain Rolland descrevia seu sentimento religioso como um “sentimento religioso”. Mas o mar, cheio de vida, é incontrolável. Algumas pessoas têm a ilusão que é possível engarrafar Deus. Quem tem Deus engarrafado tem o poder. Como na estória de Aladim e a lâmpada mágica. Nesse Deus eu não acredito. Não tenho respeito por um Deus que se deixa engarrafar. Prefiro o mistério do mar... Algumas pessoas não gostam do que penso sobre Deus porque elas deixam de acreditar que suas garrafas religiosas contenham Deus...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Este poema foi presente de aniversário da Kelly.
Amiga, te amo!! Saudades insanas!! Como pode?! Eu num guento!!! =(

A Conta e o Tempo - Frei Antonio das Chagas

Deus pede estrita conta do meu tempo,
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta;
Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo foi me dado, e não fiz conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu que gastei sem conta, tanto tempo?
Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje quero dar conta, e não tenho tempo.
Ó vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidar, enquanto é tempo, em vossa conta.
Pois aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, o não ter tempo.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Música do momento.


Eu, como já citei aqui, assisti de novo a minissérie "A Casa das Sete Mulheres" e andei procurando no YouTube vídeos com as músicas da série. Assim, duas que me tocaram muito foram: 'Vidas, Amores e Guerras' e 'Sete Vidas'. A primeira com participação de Adriana Mezzadri e a segunda interpretada somente por ela e sua banda.
Achei a melodia e letra dessas músicas profunda e inspiradora. Nos remete às imagens da série, trazendo sensação de contentamento e paz. Ainda, trazendo arrepios, pela poesia simples, harmoniosa e verdadeira.


A quem se interessar, seguem os links dos vídeos:




NOVO!!

Mudei a cara, seguindo o conselho da Ligya!
Valeu amore!

;**

quarta-feira, 2 de setembro de 2009



Uma fotinha. De um dia especial em Gramado - RS.

Depois da correria...

Olá queridos! Estou aqui, rapidamente, depois de muita correria na vida.
Estamos em fase final na organização da mudança do escritório. Ainda tem bastante coisa para ajeitar, mas vamos indo.
De coisas boas, ontem eu completei mais uma primavera e estou cada dia mais velha e cada dia me sentindo mais nova. Isso é estranho, mas acho que é bom.
Quero aproveitar o tempinho que tenho disponível agora e deixar um texto para vocês. É um "romance de banca", como disse a Kelly, mas nós adoramos, né meninas?!
Como está disponível para baixar em e-book, acho que não serei processada por isso, certo?!
Lembrei de que uma professora minha disse na semana passada que achava ridículo essa coisa de direito autoral, pois idéia não tem propriedade. O que vcs acham?!
Bom, aí vai o trecho. bjos.

"- Segure-se bem, aí, senhorita - disse Chips, avisando Isadora. - Mantenha uma mão no cordame não importando o que aconteça e certifique-se de que seus pés estão bem apoiados nas vergas quando passar por elas.
Embora não estivesse a muito mais de dois metros acima do convés, Isadora sentia-se vulnerável, em espe­cial quando o navio subiu com uma onda e balançou um pouco. Ainda assim, a despeito de sua incerteza, sentia-se orgulhosa e empolgada. A Isadora que partira do porto de Boston jamais teria se atrevido a subir no cordame de um navio. Mas uma vez que os homens do Cisne tinham decidido ensiná-la sobre as atividades de um ma­rujo, ela ousara experimentar uma centena de coisas novas, e sua confiança crescia a cada dia.
- Mas que diabos... - Ryan Calhoun aproximou-se depressa, a expressão no rosto carregada. - Droga, Chips, você não pôde deixá-la subir no cordame desse jeito.
-Não é culpa dele, capitão.- interveio Isadora de imediato. - Eu insisti. Ouvi dizer que já estamos perto de Cabo Frio e eu queria ver a paisagem do alto.
A verdade era que Isadora queria ver tudo. Para ela, a viagem se tornara uma jornada de descobertas e au­toconhecimento. Não fazia idéia do que encontraria ao final. Tudo o que sabia era que se sentia mais em casa a bordo daquele navio do que jamais se sentira em meio à sua própria vida na distante Boston.
- Desça daí neste instante - ordenou Ryan, num tom firme. Estava parado junto a uma coluna de madeira, parecendo tão atraente quanto autoritário.
Isadora não pôde deter a onda de calor que a invadiu.
Embora ele não tivesse como saber, era o responsável pela recém-descoberta sensação dela de pertencer a al­gum lugar. O jeito como falava ou se comportava não importava nem um pouco a Ryan Calhoun. Não a tratava nem melhor nem pior do que a qualquer membro da tripulação. Graças ao capitão, ela aprendera a lidar com um acesso de raiva masculino, a entender o que era pro­vocar e gracejar, a ver humor em situações que antes tinham costumado chocá-la.
O aspecto engraçado era que Ryan não parecia fazer idéia de como aquilo era bom para ela. Isadora abriu-lhe um sorriso corajoso. Subir no cordame parecera-lhe uma idéia tão boa quando havia lhe ocorrido. Chips subia pelo cordame de lá para cá feito um chipanzé, fazendo aquilo parecer tão simples. Ainda assim, agora que subia mais e mais, Isadora começava a se arrepender.
- Não me faça ir tirá-la dai - disse Ryan, furioso.
Ela tomou sua decisão rapidamente. Seu orgulho exigia que prosseguisse.
Desde que haviam cruzado a linha do Equador vários dias antes, ambos tinham voltado a evitar um ao outro. Ele que reservasse seu charme para garotas de cabeças vazias e bustos cheios, pensou Isadora, decidida a não se deixar governar por aquele homem arrogante.
- Eu vou continuar, sr. Pole. - disse a Chips.
O carpinteiro do navio lançou um olhar impotente a Ryan.
- Mão e pé opostos a cada vez, senhorita, esse é o jeito certo.
- Droga, eu vou atirar você aos tubarões, Pole! - gritou Ryan. - Não pense que não vou.
- Não vai. - Chips não conseguiu conter um sorriso.
- Preciso ajudar a dama. É a primeira vez que ela faz isso, sabe?
Isadora tentou não sorrir enquanto segurou-se ao cor­dame com uma mão e ergueu o pé oposto até a verga seguinte. As saias esvoaçantes tornavam a subida desa­jeitada, não havia o menor recato em escalar as cordas daquela maneira, mas não conseguia se conter. Ansiava por avistar a terra exótica e distante até a qual haviam navegado tão depressa.
- Posso ver a sua calcinha daqui - gritou Ryan Calhoun. Ela quase se soltou. Apenas o instinto de sobrevivência a fez continuar se segurando com firmeza.
- Um cavalheiro não olharia. E, com toda a certeza, não faria nenhum comentário.
- E quem disse que eu sou um cavalheiro?
Isadora lançou um rápido olhar para baixo e deu-se conta de que ele também estava subindo. Em questão de segundos, subia pelos cabos e logo a encarava através do emaranhado do cordame.
- Já que insiste nessa subida, - disse ele calmamente - acompanharei você para poder salvá-la caso comece a cair.
- Se eu começar a cair, - retrucou ela - não haverá como me salvar. - Quase riu a ver-lhe a súbita expressão de perplexidade nos olhos azuis. - Não se preocupe. Não planejo cair. E não precisa subir comigo.
- Prefere que eu fique no convés abaixo de você, olhando para as suas saias com o restante dos marujos?
Isadora segurou as cordas com raiva.
- Não darei resposta a uma pergunta insolente dessas."

The Charm School - Susan Wiggs